‘Estou desempregada, o que faço?’ Quantas vezes você se viu perdida numa situação dessas?
Perder o emprego é algo frustrante e que pode se transformar em uma situação desesperadora se não estabelecemos algumas atitudes. Semanas atrás li uma matéria no Estadão que apontava para um recorde histórico do número de desempregados no Brasil. Os últimos anos de instabilidade econômica e crise política prejudicaram diversos setores.
Setores como o da Construção Civil, ao qual eu fazia parte até 2015, foram extremamente afetados. Conheço algumas dezenas ou talvez centenas de colegas e amigos que viram suas posições de trabalho serem fechadas. Comigo não foi diferente! Deixei o mercado formal de trabalho em agosto de 2015.
Segundo o Estadão, atualmente temos cerca de 27 milhões de desempregados no Brasil. Quase que diariamente recebo contatos de pessoas desconhecidas, via Linkedin, encaminhando currículos e pedindo ajuda com recolocação. Mas, será que este é o melhor caminho? Sair disparando currículos a pessoas de áreas e setores distintos da sua ocupação anterior? Vez ou outra também vejo alguns contatos em redes como o Facebook, questionando os processos de recrutamento e a postura de headhunters e empresas em um momento tão delicado.
Apesar de uma leve melhora da economia, o mercado de trabalho ainda parece ser incapaz de oferecer vagas para todos que procuram emprego. Porém, ao observar pessoas ao meu redor, percebo que algumas rapidamente conseguiram reverter a situação, dando um chega pra lá no desemprego. No entanto, alguns milhões de brasileiros continuam enfrentando um caminho árduo até a sonhada carteira assinada novamente.
Ao longo da minha carreira fui demitida 2 vezes, os dois momentos ocorreram em períodos de crise, durante processos de reestruturação das empresas empregadoras. A primeira, em 2008, me recoloquei com menos de 30 dias. Na segunda vez, em 2015, aposentei minha CLT. Refletindo um pouco sobre essa dualidade, decidi compartilhar algumas dicas e atitudes que foram fundamentais para mim e para meu sucesso.
Estou desempregada, o que faço?
1. Mantenha-se positiva
Manter-se positiva durante o desemprego pode ser desafiador, mas sucumbir a pensamentos e emoções negativas pode levar à depressão. Quando perdemos o emprego também passamos por uma espécie de luto. É um rompimento que não era esperado. Por vezes, fica um gosto amargo na garganta e uma sensação de rejeição. Ficar triste e ruminando emoções negativas não ajudará em nada. Precisamos viver esse luto, colher os aprendizados do processo e seguir em frente.
Sei que não é fácil, mas é possível. Você é o única responsável por olhar o copo e vê-lo meio cheio ou meio vazio. Tente examinar as coisas boas que estão acontecendo ao seu redor: sua saúde, família, amigos, novas oportunidades e talvez a chance de fazer algo diferente, seguir um sonho, por exemplo.
2. Estabeleça uma rotina e mantenha-se produtiva
Levante cedo. Aproveite o momento para fazer algumas coisas que estavam no automático de forma mais consciente. Tome seu café da manhã com calma, mastigue várias vezes, perceba o sabor de cada alimento, aprecie o sabor e o aroma do café. Observe os alimentos que você escolhe, preste atenção nas pessoas ao seu redor, abrace elas e diga bom dia! Aproveite para organizar as ideias. Nada de ficar na cama o dia todo.
Quando eu estava desempregada, acordava cedo, ía até o parque correr, fazia musculação, praticava alguns minutos de meditação e depois sentava para planejar meu dia. Eu sempre gostei de ter um pequeno caderninho de notas. Nesta fase, gostava de sentar em uma padaria, pedir um expresso e fazer anotações. Aproveitava a disponibilidade de tempo para pensar, estruturar alguns pensamentos e anotar meus verdadeiros desejos. Veja este período como oportunidade para cuidar melhor da sua saúde e ficar em forma.
3. Mantenha-se atualizada
A disponibilidade de tempo é excelente para melhorar o currículo. Atualmente temos ao nosso alcance diversos cursos online, workshops e conteúdo rico para ampliar o leque de conhecimento. Estamos em plena era digital. Procure por cursos que despertem seu interesse. Plataformas como Coursera, EDX e Udemy possuem uma infinidade de cursos à disposição, basta escolher um e começar. De cursos de línguas, história, filosofia a programação, tudo está disponível á distância de um clique. Hoje é possível estudarmos nas melhores universidades do mundo, basta querer.
E não adianta dar a desculpa da falta de dinheiro, alguns cursos são gratuitos ou custam muito pouco, sendo acessíveis para qualquer um que queira genuinamente aprender algo novo ou se aprofundar em algo que já conhece. Na EDX, por exemplo, é possível encontrar cursos muito legais ministrados por nada mais nada menos que Harvard, Berkley, Yale e outras universidades renomadas. Em geral, você tem acesso gratuito aos cursos e paga somente se quiser um diploma da instituição. Portanto, seja produtiva e comece hoje mesmo a melhorar seu currículo e sua experiência.
4. Não se culpe
Não fique remoendo o que passou. Nem se questionando por sua demissão ocorreu. Se você foi desligada por alguma razão específica como resultados abaixo do esperado ou alguma questão de comportamento, reserve sim um tempo para refletir, absorver o aprendizado, compreender o que podia ter sido diferente e vida que segue.
Nada de ficar “se chicoteando”. Os erros são necessários para nosso amadurecimento e aprendizado. Sem eles, jamais evoluiríamos. Quando olho para pessoas de muito sucesso, a única certeza que tenho é que elas erraram bastante e que tiveram o maior proveito possível dos erros.
5. Voluntarie-se

Trabalho voluntário é legal. Você faz coisas legais
Uma ótima maneira de ocupar o tempo de modo produtivo é através do trabalho voluntário. Em 2015 e 2016, tive a gratificante chance de realizar um trabalho em um residencial de idosos. Durante 10 meses atuei no setor de idosos com bastante restrição de movimentos, em sua maioria, pessoas com Alzheimer e demência, que já não conseguiam mais se alimentarem sozinhas. Meu trabalho consistia em ofertar o café da manhã e o almoço, interagir com nutricionistas e fonoaudiólogos de forma a proporcionar a nutrição mais adequada para aquelas pessoas.
Se doar para o outro é mágico, e posso garantir que quem mais ganhou nesse período fui eu. Em amadurecimento, humildade e em gratidão pela vida, pela saúde dos meus pais e familiares.
6. Saia de casa
Vista-se e saia de casa. Encontre um café ou um espaço de coworking e faça as atividades planejadas de lá. Seja a reestruturação do seu currículo, o curso online ou a leitura de um jornal diário. Em São Paulo recomendo fortemente o Campus São Paulo, espaço do Google para empreendedores. Há uma programação rica e constante de eventos, que alimentam o ecossistema com conteúdo e debates de altíssima qualidade.
Sair de casa também pode proporcionar a você um encontro com um futuro parceiro, cliente ou mesmo empregador. No Campus, por exemplo, há um enorme painel de “procuro” e “ofereço” onde empresas de tecnologia e startups anunciam vagas e serviços que precisam no momento. Pode não vir um emprego, mas talvez surja um job que contribua para a renda do mês e até ideias para um negócio próprio.
7. Considere empreender
Essa é a dica que eu mais gosto (risos). Como mencionei no início deste artigo, em 2015, depois de ser demitida, aposentei minha CLT. Passei por alguns momentos complicados, de saúde familiar, logo que fiquei disponível para o mercado. Optei por não procurar emprego e dedicar o tempo livre para minha família. Foram cerca de 3 meses envolvida no ambiente de saúde, hospital, diagnósticos, etc. Tudo ficou bem e era o meu momento de seguir as dicas aí de cima. Porém, tanta coisa se passou em 3 meses que me dei conta que não era feliz no meu emprego anterior. O medo de perder alguém muito querida fez minha ficha cair.
Passei anos trabalhando, apenas pelo salário no final do mês, tive crises de ansiedade, vivi na pele sintomas do estresse crônico e quase cheguei ao Burnout. Não queria mais aquela vida para mim. Foi deste contexto, que ao invés de reestruturar meu currículo e procurar emprego, fui atrás de um sonho: empreender.
Comecei assistindo algumas palestras, participando de meetups, workshops e conversando com amigos sobre minhas ideias mirabolantes. E foi assim, que no final de 2015 surgiu a ideia de empreender na área de saúde, após uma conversa com um querido amigo, que atualmente é meu sócio. Em maio de 2016 nasceu a Vittude, uma plataforma para conectar psicólogos e pessoas que desejam fazer psicoterapia.
8. Cuide da sua presença online
Na era das conexões sociais, que tal usar seu tempo livre para cuidar da sua imagem online? Faça uma análise das suas redes sociais, sua experiência e a forma como você se descreve nelas.
Considere compartilhar seu conhecimento atual com outras pessoas. No LinkedIn, use a força do pulse e escreva artigos. No Instagram pense em peças criativas, com conteúdo informativo para pessoas da sua área de atuação, use e abuse do Stories. Tem vocação para vídeos? Já pensou em criar um canal no Youtube? Engaje-se em construir a sua marca pessoal e sua identidade profissional.
Lembre-se que estar disponível para o mercado de trabalho não significa fracasso e sim oportunidades. Redescubra-se!
9. Treine sua mente
Se tiver disponibilidade de capital, invista na psicoterapia e até mesmo em um processo de coaching para esse período de transição. No meu caso, fiz os dois. A psicoterapia faço desde 2012. Quando fiquei desempregada usei a terapia para digerir a demissão. Questionei-me o que podia ter feito diferente e minha psicóloga me ajudou a ressignificar algumas tomadas de decisão. O processo foi crucial para que eu pudesse elaborar com maior clareza tudo que havia passado. Meses depois, contribuiu para ter a certeza de que meu caminho estava no empreendedorismo.
O processo de coaching fiz meses depois que a Vittude já tinha nascido. Como fundadora de uma startup, precisava falar da minha empresa, fazer apresentações em público e sempre ficava muito nervosa. Decidi então fazer um coaching de oratória, com uma fonoaudióloga. Quem me vê falando em público, em cima do palco, dando entrevista para TV não imagina que um dia eu cheguei a quase desmaiar de tanta ansiedade antes de um pitch, como chamamos o momento em que apresentamos o negócio para investidores.
Também no sentido do treinamento mental, um dos exercícios que mais me ajudam no dia a dia é a meditação. Quando meditamos ficamos mais focados, atentos e produtivos. Conseguimos prestar atenção nas coisas que estão ao nosso redor e não deixamos que atividades ou insights importantes passem despercebidos.
Se você está desempregada há algum tempo ou se isto acabou de acontecer, cuide de você! Gosto de repetir sempre: seja gentil com você! Opte por atitudes que te levem para frente e que te façam se sentir plena e feliz. Por último, assegure-se de seguir seus instintos e seu coração, eles são muito bons guias para nossa jornada por aqui.
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